Alma de Escritor

ESCRITORES DE ALMA NÃO ESCREVEM;
CEDEM SUAS MÃOS PARA SEREM USADAS
COMO INSTRUMENTO DIVINO.



quinta-feira, 25 de agosto de 2011

Desabafo de Um Adolescente















Celso da silva
(Protegido por Direitos Autorais)

Fui criança: brinquei, sorri, amei e fui amado.
Nos olhos dos meus pais vi muitas lágrimas e elas brotaram espontaneamente, quando engendrei as primeiras palavras.
Senti orgulho ao vê-lo sorrir e, sorri também.
Ao alçar o primeiro passo escutei a frase de incentivo escapulir entre os lábios do velho: – Anda meu filho, o mundo é teu. O choro embargou a voz de minha mãe e as lágrimas rolaram em sua face sorridente.
A adolescência chegou e diante dela o mundo se abriu.
O universo que pensei estar reduzido a colégio e lar, com a chegada da pré-adolescência, expandiu-se num estalo; amigos; meninas; baladas; festas e... Senti-me uma divindade. Tudo estava ao meu alcance e em breve a maioridade me presentearia com a liberdade que pensei não ter, pois, meu pai, esboçando uma estampa sisuda, com o dedo a balançar ao lado do rosto, repetia sempre que me via pronto a sair. – Mantenha-se longe das drogas, da bebida e das brigas... Selecione os amigos e afaste-se dos problemas. Pegou a camisinha? Questionava mamãe.
Eu respondia um sim, sussurrado, quase não querendo responder e escutava meu pai complementar; sempre. – Não esqueça meu filho: “As atitudes do jovem, alicerçam o homem”.
Segui seus conselhos por anos e por anos fui feliz, mas tinha me tornado adulto e, pra festejar, decidi quebrar as regras seguidas até então.
Balada regada de mina e a pancada do som vibrando no peito. Tudo era divino naquela noitada libertária e a voz da mina, soou como flauta encantada!
- Deixa de ser careta, ao menos uma vez na vida, cochichou a princesa que acariciava meu rosto.
- Verdade - pensei -. Pra tudo existe uma primeira vez. E eu que, até então, bebericara, afoguei-me na liberdade que o álcool injetava em minhas veias, a cada gole.
Mal sentia o tato quando sentei por detrás do volante do carro, que ainda nem era meu. Enterrei o pé na lata, escutei o chiar e ainda senti o cheiro de borracha queimando quando o deslocamento do ar me empurrou de contra o encosto... Cara! Pura adrenalina.
Depois o mundo girou, e eu apaguei, de vez.
Foi por mim mesmo, e pela irresponsabilidade do feito, que meu mundo infinito reduziu-se a este leito.
As lágrimas hoje são minhas e não são de alegria, não consigo sequer secá-las... não sou mais dono de mim mesmo, e meus olhos que corriam pela vastidão do universo, permanecerão pra sempre vislumbrando apenas um teto.