Alma de Escritor

ESCRITORES DE ALMA NÃO ESCREVEM;
CEDEM SUAS MÃOS PARA SEREM USADAS
COMO INSTRUMENTO DIVINO.



quinta-feira, 20 de janeiro de 2011

UFSC 2011

As grandes conquistas devem ser compartilhadas.

Estava em viagem ao Rio Grande do Sul e quase chegando ao destino quando o celular emitiu sinal sonoro.
Minha esposa leu a mensagem e; adivinhem??????

Aprovado na Universidade Federal de Santa Catarina. UHUUUUUUUUUUUUUUUUUUUUU.

Letras Português e Literatura, ai vou eu.

segunda-feira, 17 de janeiro de 2011

Sepé Tiarajú / Herói Nacional






Sepé Tiarajú agora é herói nacional.
Lei sancionada pelo presidente em exercício José de Alencar, eleva o índio missioneiro ao mesmo patamar de personalidades históricas, como; Tiradentes, Santos Dumont e Zumbi dos palmares.
Passados duzentos e cinqüenta anos de sua morte, o projeto de autoria do deputado federal Marco Maia (PT) coloca o grande defensor da terra missioneira, por lei, a figurar no Livro dos Heróis da Pátria brasileira.
- Chegou à vez de prestarmos o devido reconhecimento à história de coragem e de luta de nosso herói - Sepé Tiarajú -, pelo direito a terra. Afirmou o deputado.
- Esta terra tem dono! Bradou o caudilho quando Portugal e Espanha, após assinarem o tratado de Madri, obrigavam cerca de 50 mil índios cristãos a abandonar suas cidades, igrejas, lavouras, fazendas, gado e também os campos santos onde estavam enterrados seus ancestrais.
Insurgindo-se contra esse tratado, Sepé Tiarajú liderou a resistência dos índios Guaranis.
O caudilho que trazia um lunar estampado na testa tombou combatendo no Batovi, hoje município de São Gabriel, no dia 7 de Fevereiro de 1756.
Com destreza felina e coragem de um predestinado, enfrentou tropas espanholas e portuguesas portando arco, flechas e lanças.
Três dias após sua morte, mil e quinhentos índios foram trucidados na batalha do Caiboaté.
O povo do Rio Grande do Sul, por conta própria, o transformou em santo popular e nominou uma cidade com o nome - São Sepé -.

quinta-feira, 6 de janeiro de 2011

Sina do Mate














S I N A D O M A T E
Autor: Celso da Silva
Texto protegido por direitos autorais).

Topetudo, tal qual o Lombo do Batoví, sorvia a água da cambona, quando o enleio estrondou na coxilha; lancei um vistaço, e assisti o malfado. Primeiro um turbilhão, como se o grande rio despejasse o que tinha tragado, por dias e dias; antes fosse! O som das patas, esmagando a grama descorada misturou-se ao calorento ar, que soprava agourento, como a estender o manto enlutado sobre o Caibaté. E o tufão, não vinha de frente, nem de trás, mas de lado, amadrinhando o caudilho Guarani.
Indiferentes a refrega no campo, três éguas e dois castrados deixavam o capão da Sanga da Bica, quando Tiarajú facetou a vista e, esquadrinhando, vislumbrou o bagual malacara - de peito largo e pata grande - que há poucas luas pisoteara um dos seus, sem dó. No lombo do pata grande, estufado de fidalguia, trotava o comandante espanhol, o mesmo petulante que esporeou e guiou as rédeas sobre o guerreiro Guarani, que depois de a montaria perder-se numa das tantas bocarras do chão, cruzou, lambendo a crina e estatelou-se no costado do Alazão. Feito um gato, ele saltou de pé, mas não resistiu ao trompasso da paletada e tombou. Ao mesmo tempo em que a grande pata afundava a ossada do peito, desprendia-se o urro de guerra, entressachado de dor e, enquanto existir Rio Grande, e os agostos estenderem brancos mantos na vastidão dos campos, zunirá o
timbre nativo nos alambrados das invernadas missioneiras.
Ao alumiar a vista no entorno do algoz, aos ouvidos de Sepé voltou o grito, urrado, entremeado ao estalar de ossos se fragmentando ao baque do casco. Por segundos, seus olhos viram apenas a besta que viera, senão, para pisotear e esmagar a paz que a companhia de Jesus, finalmente, conseguira enraizar na terra de seus ancestrais, dos seus e dos que viriam de si.
Naqueles dias, bruxas européias ordenaram Touros e Tuco Tucos a escaramuçar a terra em favor da avidez, que por sobre a vida, dispõe o tostão. Para tramar ferro com o invasor o cacique esporeou o Baio, mas, por sob o casco se abriu a bocarra e ao falseado da perna, a paleta do Ruano se mesclou ao vermelho da terra.
Tal qual a crina, a cola esbranquiçada, que deveria apontar o chão, virou de ponta, como a indicar o novo caminho por onde Tiarajú deveria seguir e transformar o lunar estampado na testa, em cruzeiro, para indicar aos errantes, os caminhos do Sul.
- Se fué el capitán! Gritou o Dragão da ponta... E, antes de encerrar a frase, saltou do lombo e enterrou a lança na musculatura rígida, que se estirava, para colocar o guerreiro de pé.
As mãos de Sepé Tiarajú - num movimento ágil - conseguiram evitar o trespasse, mas o estanho espanhol afundou na carne, rasgou as estranhas e se acomodou no seio da terra.
Tombado de costas, com o olhar entremeado ao azul e branco do céu guarani, sentiu minguar o rufo no peito e, antes que a luz se apagasse de vez, na chispa do isqueiro, se acendeu a pólvora, derramada sobre o corpo guerreiro, ainda pulsante.
Noites antes, sabedor da desventura de Jussara, que cevava a cuia e me sorvia, como o beija-flor suga o néctar das flores, passeei em seu sonho e pintei o quadro funesto - como se de algo servisse – pois, ao que está escrito, não se muda uma vírgula e, neste inicio de tarde, quando a amada de Sepé estendia os braços, enlaçados ao fardo de caá, na direção do girau, sentiu a fisgada no peito... Seus olhos cerraram e por detrás das pálpebras viu o clarão das labaredas que lhe mostrei no sonho.
Nada eu podia mudar, então sorri ao escutar o galopeio compassado do baio ruano, rumo à cancela aberta no céu, deixando atrás de si, como extensão do próprio corpo, um rastro brumoso de lampejos cintilantes.
Na noite daquele dia, ao redor do fogo de chão, em meio à ufania etílica, mesmo sabendo que a desolação arderia em chamas antes do cair das folhas de Outono, adocei, boca por boca, com o amargo de minhas folhas e talos. O Minuano rusguento do Agosto glacial, verberando as cruzes do cemitério, tinha me segredado, em sotaque erudito de andante, que findaria a paz, mas, não pereceria a raça Guarani. Seus traços, mesmo débeis, desenhariam faces mundo afora e suas mãos se estenderiam alcançando o mate de união.
Naqueles dias, as ervateiras também arderam em chamas, mas, fadadas a unir congraçar e aquecer almas brotaram em meio às coivaras e agora verdejam os campos sulinos, graças a isso, prossigo irmanando e semeando mateadores mundo afora.
Nas noites pampeanas, ao redor do braseiro, enquanto aqueço peitos e almas, deleito-me ao escutar, bradando nas frinchas: Céu, Sol, Sul, Terra e Cor... não somente das cordas das guitarras campeiras, dos foles de gaitas e de bocas campesinas, mas também de citadinas e aquerenciadas que, na armada de doze braças trançadas com oito tentos na rudeza do campo, cincham teatinos que se abancam, para matear, prosear e churrasquear ao pé do gaudério fogo de chão pampeano.


Glossário
Autor: Celso da Silva
(Texto protegido por direitos autorais).

Abancar-se: Assentar-se; significa também começo de ação;

Agourento: De mau agouro, pessimista;

Alumiar a vista: Clarear a visão, achar o foco do objetivo;

Amadrinhando: Radical em madrinha, que é protetor; que dá amparo;

Armada de doze braças: Tamanho da armada do laço;

Baios: Pelagem do cavalo, de cor clara;

Batovi: Cerro localizado na localidade de mesmo nome, na cidade de São Gabriel, de importância histórica, pois lá foi fundada, pelo espanhol Don Félix de Azara, a primeira Vila de São Gabriel do Batovi, que mais tarde deu origem a cidade de São Gabriel. O nome "Batovi" tem origem da palavra indígena "m'baetovi" que significa "coisa amontoada";

Bocarras do chão: Buracos no chão;

Branco manto: Geada;

Caá: Chá ou infusão das folhas da erva mate;

Caibaté: Município gaúcho chamado de terra dos mártires, porque, em Caaró, em terras do atual município de Caibaté, os padres jesuítas Roque Gonzales de Santa Cruz, Afonso Rodrigues e Juan del Castillo foram trucidados por um grupo de nativos contrários à evangelização cristã, liderados pelo cacique Nheçu, um líder guarani que possuia autoridade máxima na região do atual município de Roque Gonzales e comunidades vizinhas. No local foi erguido um santuário em honra aos jesuítas mártires;

Calorento: Diz-se em relação ao clima, de temperatura alta;

Cambona: Utensílio da cozinha campeira, geralmente feito de vasilhame metálico (lata de azeite) envolvido por alça de arame torcido como cabo, servindo como chaleira ou bule. A versão mais sofisticada é conhecida por chicolateira e, se presta ao mesmo fim: aquecer a água para o mate;

Castrado: Animal orquiectomizado;

Caudilho: Refere-se a um líder político-militar no comando de uma força autoritária;

Céu, Sol, Sul, Terra e Cor: Fragmento de música Gaúcha (Cantor e compositor Leonardo) considerada hino popular no Rio Grande do Sul;

Cinchar: Puchar, arrastar pela cincha;

Companhia de Jesus: A Companhia de Jesus, cujos membros são conhecidos como jesuítas, é uma ordem religiosa fundada em 1534, por um grupo de estudantes da Universidade de Paris, liderados pelo basco Íñigo López de Loyola, conhecido posteriormente como Inácio de Loyola, para combater as idéias de Martinho Lutero e o protestantismo. É hoje conhecida principalmente por seu trabalho missionário e educacional;

Coxilha: Pequena elevação no terreno, menor do que monte, morrete;

Coivara: amontoado de galhos que sobrou da queimada;

Dragão: Militar do Exército, soldado;

Enleio: Enrosco; briga, luta;

Entressachado de dor: Dolorido, com dores muito fortes;

Estanho espanhol: Projétil de arma de fogo, usados pelos espanhóis;

Girau: Espécie de grade de varas, sobre esteios fixados no chão, que serve de cama nas casas pobres e também de grelha para expor ao sol quaisquer objetos;

Lombo: Garupa;

Malacara: Nome próprio, geralmente dado a cavalos. Também se refere a cânions do Itaimbéxinho, no RS;

Malfado: Malfadado, sem sorte, azarado;

Matear: Sorver o mate. O mesmo que chimarronear, ou seja, tomar o chimarrão;

Paleteada: Batida, pancada com a paleta;

Prosear: conversar, contar causos;

Refrega: Briga, luta;

Ruano: Cor da pelagem do cavalo;

Sorvia: 3ª pessoa do verbo sorver;

Teatino: Diz-se do cavalo, ou de outro animal, ou de objeto que nao tem dono. Aplica-se a pessoa que anda fora de sua terra, como animal sem dono;

Tiarajú: lendário índio guarani, Sepé Tiarajú foi líder da resistência indígena ao Tratado de Madrid (1750) nos Sete Povos das Missões, região oeste do Rio Grande do Sul;

Topetudo: De modo altaneiro, altivo, elevado, de certa arrogância, de certo orgulho; diz-se do chimarrão cevado com fartura de erva mate;

Tuco Tucos: Espécie de roedores;

Trançado de oito: Laço ou sovéu trançado com oito tentos;

Trompasso: Batida de forte impacto;

Turbilhão: Remoinho, rebojo;

Ufania etílica: Bebedeira;

Vistaço: Olhada ao longe;